instinto e moral na sociedade humana
A humanidade está destinada a atingir a sua perfeição
Porquê que certos comportamentos
do homem ultrapassam, em termos de crueldade, os dos animais? jmt
Para prosseguir mais tranquilamente a nossa demonstração, que indica que a « evolução humana dirige-se para a sua perfeiçã », temos primeiro que tentar explicar aquilo que parece não ter explicação.
Explicar porquê que a passagem entre o animal e o homem se viu obrigada a ser « enriquecida » de comportamentos
paradoxais como o são a perfeição ou a crueldade.
1/ A crueldade Entendemos por crueldade as acções que permitem a um ser humano fazer sofrer outros seres humanos, sem sentir a mínima
empatia. São os actos destinados à transformar conscientemente os nossos semelhantes em escravos, à tortura-los conscientemente para satisfazer um prazer, uma paranóia ou o ódio, à aterrorizar conscientemente pessoas ou povos, etc. Todo o indivíduo,
grupo ou poder que demonstra crueldade infringe as leis morais e laicas da humanidade. A crueldade é o
resultado de um sofrimento mental. No meu ponto de vista, é de ordem socio-patologia, ou seja, construída pela sociedade, a família, o grupo. Quando esse carácter, dissimulado por detrás de um véu superficial de sedução, atinge as áreas do poder, transforma frequentemente o poder em ditatura, e acaba em carnificina. 2 / A perversão Entendemos por perfeição todas as acções com
o objectivo de maltratar ou abusar outra pessoa, um grupo, ou uma população; agindo todavia dentro dos limites da legalidade. Trata-se também da determinação em colocar
os nossos semelhantes sob a nossa dependência sem que eles se apercebam disso; a capacidade de utilizar as vias legais (regulamentos comerciais, leis, conselhos de segurança, etc.) para empobrecer
os outros, roubar países, manipular dirigentes, tornar seres humanos escravos sem se preocupar com a sua existência; corromper,
perverter outras pessoas para as utilizar, etc. Um indivíduo, um grupo ou um poder perverso, infringe a moral humana ao mesmo
tempo que se mantêm dentro dos limites da lei. Está então completamente à vontade na área da democracia que até consegue corromper, se utilizar os seus maiores poderes (é o caso de mercado
actualmente). A análise desses comportamentos, desconhecidos na natureza (e que no entanto declinam da natureza) é uma
necessidade. Sem isso, parece muito difícil apercebermo-nos do lado positivo da evolução humana, difícil entender o propósito
da nossa presença no coração da grande aventura
do ser vivo. Todavia, se a evolução humana faz sentido, tanto a presença da crueldade como a da perversão
também
fazem sentido, e é isso que temos de esclarecer. Neste sub
capitulo, vamos esclarecer sucintamente este conceito. Reflexões mais aprofundadas serão desenvolvidas nos capítulos relativos ao mal e à perfeição .
Do animal ao homem
Indubitavelmente, a perversão, ou o prazer de torturar, não se encontram no resto do mundo animal. 1/ Sobre terra, no mar ou no ar, os predadores contentam-se em matar as suas presas o mais rapidamente possível, evitando-lhes sofrimentos inúteis.
2/ Quando há conflitos entre dominantes, os vencedores nunca
usam a sua superioridade física para martirizar os vencidos.
3/ Um lobo bem podia partir o pescoço doutro lobo que estivesse sob a sua dominação quando este demonstrasse uma
atitude de submissão, no entanto não faz isso. Os dominantes crocodilos, touros, leões, elefantes, tem meios
para perseguir os mais fracos, mas tem um instinto mais potente que os impede de fazer isso. Por ser gerida por esse « instinto
potente », a violência do mundo animal ignora os comportamentos perversos. Esse instinto, director ideal para um mundo inconsciente e desprovido
de moral, será designado nos presentes capítulos
por « instinto do bem » ou « moral instintiva ».
Do instinto do bem à moral ensinada e aprendida
Ao longo
da sua evolução, o homem desenvolveu a sua
consciência. Conforme a consciência foi emergindo, os instintos perdiam influência. Progressivamente, os fundamentos do « instinto do bem » migravam para a consciência. Esse instinto
do bem transformou-se progressivamente em moral, em ética
e em leis. morais, éticas e leis são conceitos ensinados na
escola e logo desde os primeiros anos de escolaridade. Por outras
palavras, os freios naturais da violência saíram
do reino do inconsciente para chegar ao da consciência. O
homem d então, agora, aprender sozinho à limitar a sua violência, à limita-la conscientemente, já que não existe mais nada instintivo que a possa limitar. Se os conceitos morais, éticos e legislativos não
foram correctamente assimilados, e se existe uma falta de empatia, então o ser humano pode ver o seu comportamento atingir
o grau da monstruosidade. 1/ A evolução da moral Ao longo da nossa evolução, a « moral humana » progrediu. De partidária e assente em clãs, tornou-se universal
(« não faças aos outros aquilo que não
queres que te façam à ti », « todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos »). Religião, escola, justiça – pelos conceitos de bem e de mal, de bom e de mau, e de legal e ilegal – são
considerados os grandes veículos da moral humana. No entanto,
o ensino das grandes regras universais morais não é suficiente para dominar as pulsões agressivas. 2/ A importância da empatia Para se tornarem mesmo eficazes, os grandes valores morais dm ser acompanhados de uma potente capacidade para a empatia.
Para se desenvolver, essa qualidade, fundamental para a espécie humana, precisa de um quadro afectivo eficaz e respeitoso (amor
materno, paterno, fraterno, amizade, etc.) capaz de inscrever
na criança o respeito pelos outros, o amor pelo fraco, a
generosidade, etc. Também precisa de um mundo que não
seja regido pela lei da selva (sociedade justa, igualitária, pacífica, etc.).
O meio familiar, a educação, as circunstancias da vida, podem fazer com que um ser humano seja
egoísta, narcÃsico, cheio de desprezo pelos fracos, etc., ou pelo contrário,
fazer com que seja uma pessoa generosa, humilde, universalista, igualitarista, etc.
Sociedade, crueldade, perversão, paz
«
O regime totalitário é um regime onde tudo o que não é proibido é obrigatório » Curzio
malaparte A atmosfera vivida por uma sociedade depende do lugar que ocupa opovo (democracia
ou ditatura) e do carácter psicológico
do sistema dominante. Um poder colocado entre as mãos de sóciopatas, de narcÃsicos, de rÃgidos ou de democratas dita destinos completamente diferentes à sociedade.
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Os poderes sóciopatas ou psicopatas, ou seja os poderes deliberadamente criminais (Hitler, Mussolini, Estaline) impõe naturalmente a ditatura para realizar as suas maldades. a/ Os poderes rÃgidos, como algumas teocracias, também
acabam por estabelecer autênticas ditaturas e interrompem
qualquer progresso.
b/ Os poderes narcÃsicos, como o mundo actual sob a suave tirania do mercado, preservam as grandes estruturas da democracia mas evidenciam
cada vez mais as disparidades entre dominante e povo. Por outras
palavras, os poderes narcÃsicos degradam pouco a pouco a democracia.
c/ Os poderes democráticos, quando respeitam verdadeiramente a ética democrática, são, no meu ponto de vista, os mais coerentes com o nível de consciência
atingido pela nossa espécie. 1/ As ditaturas
Uma sociedade que esteja sob o domínio de um poder criminal e psicopata, como foi o caso da Alemanha nazi, tem fortes probabilidades de acabar assassinada.
Assim como um psicopata, que quando se afunda no crime, assassina
indiferentemente aqueles que diz amar e aqueles que diz odiar, também o Hitler assassinou o seu povo, que dizia amar, e opovo judeu que ele odiava. Obviamente, trata-se aqui do sistema
onde a crueldade, o medo e a violência estão no seu
cúmulo. Uma sociedade submissa à ditatura de um perverso narcÃsico
como foi o caso com Mussolini, vive forçosamente na atmosfera
venerada pelo mestre, que neste caso foi o império romano.
Por outras palavras, vive o desejo de conquista de um pseudo imperador, as guerras, e finalmente a decadência. Tudo isso em acelerado, porque se trata apenas de um remake, vivido por uma sociedade que
já não tem os meios do império, num mundo
já virado para a democracia e cujos ntos se vivem com
uma frequência diferente. Esse tipo de ditatura também
leva a crueldade até ao seu cúmulo. Uma sociedade sob o domínio de um poder rÃgido, como
frequentemente é o caso dos sistemas teocráticos, tem todas as hipóteses de ver a sua condição
social, técnica, moral, etc. regredir para os níveis de vida observados na origem dessa religião. Nesse tipo
de sociedade, a violência reencontra então sensivelmente os mesmos níveis de crueldade que na altura da sua génese
(Antiguidade, Idade Média). 2/ As democracias à ditatura corresponde a crueldade, às democracias corresponde a perversão. Num mundo democrático, social, justo
e em paz, um mundo suficientemente espiritualizado e respeitoso
dos seres humanos,
o grau de crueldade e de perversão é relativamente
fraco. As disparidades entre « dominantes » e « dominados » são
ténues, a entreajuda, a fraternidade e a solidariedade são, pelo contrário, extremamente presentes. Neste tipo de quadro
de vida, a educação pode ser dada à volta dos grandes princípios da lealdade, do amor, da concordância
e da felicidade. « A crueldade é o remédio
do orgulho ferido » Friedrich
Nietzsche Quando, pelo contrário, o mundo vive sob
o império
de um sistema dominante, narcÃsico e venal (como é o
caso, desde algumas décadas, sob a influência do mercado), um mundo que gera cada vez mais desigualdade entre os ricos e os
pobres, cada vez mais perigo, agressividade, tensão, stress, precariedade e inconsciência, então, o conjunto humano
vê-se obrigado a desenvolver faculdades ligadas à essa
atmosfera perversa. E dessa maneira, o mundo torna-se cada vez
mais insensível, inabalável, rigoroso, intransigente, surdo … e essas « qualidades » provocam cada vez
mais perversidade. A perversão e a crueldade não pertencem à natureza própria do ser humano. Não são atitudes inatas.
Resultam de um tipo de educação, do sistema de valores contextual, de falhas afectivas, de maus-tratos, etc. Obviamente, acho que perceberam que mais vale viver em democracia, mesmo que seja sob a influência de um sistema perverso, do que sob
a ditatura de um sistema psicopata. Pouco a pouco, evoluímos
para democracias verdadeiramente democráticas, e a humanidade
já tem meios para ser a mais universal, a mais justa, a mais fraternal e a mais igualitária de todas as espécies,
se fizer por isso.
interditos
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