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Sobre a crueldade humana

instinto e moral na sociedade humana

agression, oeuvre d'art de jean marc tonizzoA humanidade está destinada a atingir a sua perfeição

Porquê que certos comportamentos do homem ultrapassam, em termos de crueldade, os dos animais? jmt

Para prosseguir mais tranquilamente a nossa demonstração, que indica que a « evolução humana dirige-se para a sua perfeiçã », temos primeiro que tentar explicar aquilo que parece não ter explicação. Explicar porquê que a passagem entre o animal e o homem se viu obrigada a ser « enriquecida » de comportamentos paradoxais como o são a perfeição ou a crueldade.

1/ A crueldade

Entendemos por crueldade as acções que permitem a um ser humano fazer sofrer outros seres humanos, sem sentir a mínima empatia. São os actos destinados à transformar conscientemente os nossos semelhantes em escravos, à tortura-los conscientemente para satisfazer um prazer, uma paranóia ou o ódio, à aterrorizar conscientemente pessoas ou povos, etc.

Todo o indivíduo, grupo ou poder que demonstra crueldade infringe as leis morais e laicas da humanidade. A crueldade é o resultado de um sofrimento mental. No meu ponto de vista, é de ordem socio-patologia, ou seja, construída pela sociedade, a família, o grupo. Quando esse carácter, dissimulado por detrás de um véu superficial de sedução, atinge as áreas do poder, transforma frequentemente o poder em ditatura, e acaba em carnificina.

2 / A perversão

Entendemos por perfeição todas as acções com o objectivo de maltratar ou abusar outra pessoa, um grupo, ou uma população; agindo todavia dentro dos limites da legalidade. Trata-se também da determinação em colocar os nossos semelhantes sob a nossa dependência sem que eles se apercebam disso; a capacidade de utilizar as vias legais (regulamentos comerciais, leis, conselhos de segurança, etc.) para empobrecer os outros, roubar países, manipular dirigentes, tornar seres humanos escravos sem se preocupar com a sua existência; corromper, perverter outras pessoas para as utilizar, etc.

Um indivíduo, um grupo ou um poder perverso, infringe a moral humana ao mesmo tempo que se mantêm dentro dos limites da lei. Está então completamente à vontade na área da democracia que até consegue corromper, se utilizar os seus maiores poderes (é o caso de mercado actualmente).

A análise desses comportamentos, desconhecidos na natureza (e que no entanto declinam da natureza) é uma necessidade. Sem isso, parece muito difícil apercebermo-nos do lado positivo da evolução humana, difícil entender o propósito da nossa presença no coração da grande aventura do ser vivo.

Todavia, se a evolução humana faz sentido, tanto a presença da crueldade como a da perversão também fazem sentido, e é isso que temos de esclarecer.

Neste sub capitulo, vamos esclarecer sucintamente este conceito.

Reflexões mais aprofundadas serão desenvolvidas nos capítulos relativos ao mal e à perfeição .

Do animal ao homem

Indubitavelmente, a perversão, ou o prazer de torturar, não se encontram no resto do mundo animal.

1/ Sobre terra, no mar ou no ar, os predadores contentam-se em matar as suas presas o mais rapidamente possível, evitando-lhes sofrimentos inúteis.
2/ Quando há conflitos entre dominantes, os vencedores nunca usam a sua superioridade física para martirizar os vencidos.
3/ Um lobo bem podia partir o pescoço doutro lobo que estivesse sob a sua dominação quando este demonstrasse uma atitude de submissão, no entanto não faz isso. Os dominantes crocodilos, touros, leões, elefantes, tem meios para perseguir os mais fracos, mas tem um instinto mais potente que os impede de fazer isso.

Por ser gerida por esse « instinto potente », a violência do mundo animal ignora os comportamentos perversos.

Esse instinto, director ideal para um mundo inconsciente e desprovido de moral, será designado nos presentes capítulos por « instinto do bem » ou « moral instintiva ».

Do instinto do bem à moral ensinada e aprendida

Ao longo da sua evolução, o homem desenvolveu a sua consciência.

Conforme a consciência foi emergindo, os instintos perdiam influência. Progressivamente, os fundamentos do « instinto do bem » migravam para a consciência.

Esse instinto do bem transformou-se progressivamente em moral, em ética e em leis.
morais, éticas e leis são conceitos ensinados na escola e logo desde os primeiros anos de escolaridade.

Por outras palavras, os freios naturais da violência saíram do reino do inconsciente para chegar ao da consciência.

O homem d então, agora, aprender sozinho à limitar a sua violência, à limita-la conscientemente, já que não existe mais nada instintivo que a possa limitar.

Se os conceitos morais, éticos e legislativos não foram correctamente assimilados, e se existe uma falta de empatia, então o ser humano pode ver o seu comportamento atingir o grau da monstruosidade.

1/ A evolução da moral

Ao longo da nossa evolução, a « moral humana » progrediu.

De partidária e assente em clãs, tornou-se universal (« não faças aos outros aquilo que não queres que te façam à ti », « todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos »).

Religião, escola, justiça – pelos conceitos de bem e de mal, de bom e de mau, e de legal e ilegal – são considerados os grandes veículos da moral humana.

No entanto, o ensino das grandes regras universais morais não é suficiente para dominar as pulsões agressivas.

2/ A importância da empatia

Para se tornarem mesmo eficazes, os grandes valores morais dm ser acompanhados de uma potente capacidade para a empatia.

Para se desenvolver, essa qualidade, fundamental para a espécie humana, precisa de um quadro afectivo eficaz e respeitoso (amor materno, paterno, fraterno, amizade, etc.) capaz de inscrever na criança o respeito pelos outros, o amor pelo fraco, a generosidade, etc. Também precisa de um mundo que não seja regido pela lei da selva (sociedade justa, igualitária, pacífica, etc.).

O meio familiar, a educação, as circunstancias da vida, podem fazer com que um ser humano seja egoísta, narcísico, cheio de desprezo pelos fracos, etc., ou pelo contrário, fazer com que seja uma pessoa generosa, humilde, universalista, igualitarista, etc.

Sociedade, crueldade, perversão, paz

« O regime totalitário é um regime onde tudo o que não é proibido é obrigatório » Curzio malaparte

A atmosfera vivida por uma sociedade depende do lugar que ocupa opovo (democracia ou ditatura) e do carácter psicológico do sistema dominante. Um poder colocado entre as mãos de sóciopatas, de narcísicos, de rígidos ou de democratas dita destinos completamente diferentes à sociedade.
ß Os poderes sóciopatas ou psicopatas, ou seja os poderes deliberadamente criminais (Hitler, Mussolini, Estaline) impõe naturalmente a ditatura para realizar as suas maldades.

a/ Os poderes rígidos, como algumas teocracias, também acabam por estabelecer autênticas ditaturas e interrompem qualquer progresso.
b/ Os poderes narcísicos, como o mundo actual sob a suave tirania do mercado, preservam as grandes estruturas da democracia mas evidenciam cada vez mais as disparidades entre dominante e povo. Por outras palavras, os poderes narcísicos degradam pouco a pouco a democracia.
c/ Os poderes democráticos, quando respeitam verdadeiramente a ética democrática, são, no meu ponto de vista, os mais coerentes com o nível de consciência atingido pela nossa espécie.

1/ As ditaturas

Uma sociedade que esteja sob o domínio de um poder criminal e psicopata, como foi o caso da Alemanha nazi, tem fortes probabilidades de acabar assassinada.
Assim como um psicopata, que quando se afunda no crime, assassina indiferentemente aqueles que diz amar e aqueles que diz odiar, também o Hitler assassinou o seu povo, que dizia amar, e opovo judeu que ele odiava. Obviamente, trata-se aqui do sistema onde a crueldade, o medo e a violência estão no seu cúmulo.

Uma sociedade submissa à ditatura de um perverso narcísico como foi o caso com Mussolini, vive forçosamente na atmosfera venerada pelo mestre, que neste caso foi o império romano. Por outras palavras, vive o desejo de conquista de um pseudo imperador, as guerras, e finalmente a decadência. Tudo isso em acelerado, porque se trata apenas de um remake, vivido por uma sociedade que já não tem os meios do império, num mundo já virado para a democracia e cujos ntos se vivem com uma frequência diferente. Esse tipo de ditatura também leva a crueldade até ao seu cúmulo.

Uma sociedade sob o domínio de um poder rígido, como frequentemente é o caso dos sistemas teocráticos, tem todas as hipóteses de ver a sua condição social, técnica, moral, etc. regredir para os níveis de vida observados na origem dessa religião. Nesse tipo de sociedade, a violência reencontra então sensivelmente os mesmos níveis de crueldade que na altura da sua génese (Antiguidade, Idade Média).

2/ As democracias

à ditatura corresponde a crueldade, às democracias corresponde a perversão.

Num mundo democrático, social, justo e em paz, um mundo suficientemente espiritualizado e respeitoso dos seres humanos, o grau de crueldade e de perversão é relativamente fraco. As disparidades entre « dominantes » e « dominados » são ténues, a entreajuda, a fraternidade e a solidariedade são, pelo contrário, extremamente presentes. Neste tipo de quadro de vida, a educação pode ser dada à volta dos grandes princípios da lealdade, do amor, da concordância e da felicidade.

« A crueldade é o remédio do orgulho ferido » Friedrich Nietzsche

Quando, pelo contrário, o mundo vive sob o império de um sistema dominante, narcísico e venal (como é o caso, desde algumas décadas, sob a influência do mercado), um mundo que gera cada vez mais desigualdade entre os ricos e os pobres, cada vez mais perigo, agressividade, tensão, stress, precariedade e inconsciência, então, o conjunto humano vê-se obrigado a desenvolver faculdades ligadas à essa atmosfera perversa. E dessa maneira, o mundo torna-se cada vez mais insensível, inabalável, rigoroso, intransigente, surdo … e essas « qualidades » provocam cada vez mais perversidade.

A perversão e a crueldade não pertencem à natureza própria do ser humano. Não são atitudes inatas. Resultam de um tipo de educação, do sistema de valores contextual, de falhas afectivas, de maus-tratos, etc.

Obviamente, acho que perceberam que mais vale viver em democracia, mesmo que seja sob a influência de um sistema perverso, do que sob a ditatura de um sistema psicopata.

Pouco a pouco, evoluímos para democracias verdadeiramente democráticas, e a humanidade já tem meios para ser a mais universal, a mais justa, a mais fraternal e a mais igualitária de todas as espécies, se fizer por isso.



interditos

photographies du visage de Fiodor Mikhaïlovitch Dostoïevski,  du célèbre écrivain,  romancier, russe, 1821 - 1881

« As vezes, comparamos a crueldade do homem à das feras: isso é injuriar as feras. »

Fiodor Dostoïevksi