Consciência e valor do homem
Obrigações e valores.
Pulsões e inconsciente da humanidade« Sem obrigações, andamos ás voltas… » Mathieu
Chedid A Partir do momento
em que o homen « inventou », para si próprio, interditos, regras e leis, não deixou de tentar contorná-los
para satisfazer o desejo natural de se afirmar em detrimento dos seus semelhantes. Por um lado, a nossa propensão em contornar
o direito obriga-nos á imaginar
novas leis ( e então á desenvolver o direito). e por outro lado, por estar sujeito á sancções e castigos, o homem tem de aprender á gerir cada vez melhor as suas pulsões e as suas tendências. Dominando cada
vez melhor as suas pulsões, a consciencia
humana desenvolveu-se sempre mais. Ao desenvolver-se, essa faculdade extraordinaria que é a
consciencia, conseguiu imaginar o sisterma de valores ideais e universais que conhecemos : igualdade, fraternidade, universalidade, partilha, altruismo, protecção do mais fraco, filantropia, etc… Esses valores ideais, assimilados desde a infância pelo ambiente familiar, social, escolar, artístico, mediático, etc. servem de « perspectiva positiva », de ideal à atingir para o conjunto humano. Esse « ideal de valores à alcançar » une-se ao sistema de obrigação, para desvalorizar cada vez
mais a « capacidade humana de se afirmar em detrimento dos
outros ». a/ Os interditos controlam as pulsões pela força.
b/ Os valores controlam-nas pela consciência. Esses valores ideais opõem-se
exactamente ás leis da natureza.
- A igualdade inverte o princípio dominação/submissão
que reina no caso dos primatas naturais.
- A universalidade e a fraternidade invertem a formação
de clãs.
- A partilha inverte a tesaurização
dos privilégios.
-
A capacidade de proteger os mais fracos inverte o princípio
de selecção natural pelo mais resistente.
- O
progrèsso inverte a submissão aos elementos naturais.
Transformar
um ser condicionado em afirmar-se em detrimento dos seus
semelhantes num ser totalmente respeitoso dos outros, aqui está, segundo
pensamos, o papel da humanidade construtora.
Obrigações e inconsciente
O inconsciente é uma zona de descompressão
que facilita a passagem do animal ao humano A repressão
de algumas das nossas pulsões (aquelas
que se opõem ás leis humanas) é uma
necessidade terrivelmente violenta para o homem construtor. Obriga-o
a reprimir tendências e desejos profundamente inscritos no seu carácter. instintivamente, o primata natural
cobiça o que pertence aos seus semelhantes, deixa fluir a sua agressividade,
mostra-se hostil com os indivíduos dos clãs vizinhos, etc. Na natureza, nenhuma destas atitudes é castigada. Na humanidade, pelo contrário, essas atitudes são
proibidas. O homem sociabilizado d então conter essas reacções naturais. Hoje, os roubos
são castigados, a violência contra
os outros também, bem como o racismo e a xenofobia. No
entanto, basta interrogar a intimidade do nosso espírito
para encontrarmos a presença dessas reacções
primárias. A cobiça, o desejo de vingança
ou de dominação, o receio do estrangeiro,
podem aparecer a qualquer momento, e o homem encontra frequentemente
dificuldades em refrear essas pulsões arcaicas. Resistir ás
nossas pulsões transgressivas é um
trabalho violento e frustrante. 1/ O papel do inconsciente Para aliviar essa frustração, uma espécie
de faculdade nova, ou mais precisamente uma espécie
de zona de descompressão desenvolveu-se no cérebro
humano: O inconsciente. De certa maneira, o inconsciente « amortiza » a violência
criada pelos nossos « desejos pulsantes contrariados ».
Essa faculdade profunda, permite imitar, imaginar ou sonhar com actos contrários aos valores humanos. Permite, de certa maneira, evitar a realização desses actos que a nossa espécie proíbe e castiga.
Então, também o inconsciente participa ao grande mecanismo de compressão dos instintos transgressivos.
Obrigações e psicologia
Na nossa humanidade, a número de interditos cresce enquanto a violência dos castigos diminui.
Nos primeiros tempos da civilização,
os homens utilizaram sobretudo a crueldade, a violênciae o terror (tortura, morte cruel) para aprender a conter as suas
próprias pulsões.
O direito era arbitrário, injusto, partidário e favoravel aos mais poderosos.
A chegada das grandes religiões (hinduÃsmo,
budismo, judaÃsmo, cristianismo, islamismo) permitiu suavizar, de certa maneira, a crueldade dos dominantes guerreiros, mas também
permitiu levar a nossa consciencia até a sua dimensão
psicológica.
A espiritualidade atenuou o princípio
do castigo físico
(até aí sistemático) adicionando a culpabilização
moral (embrião da confissão) e, mais tarde, a compaixao
(origem da consciência da causa) e finalmente, a confissão
(origem do cuidado psicológico).
2/ Origem da filosofia
Na mesma época, nascia a filosofia.
Pelas suas audaciosas capacidades crÃticas, pela sua extrema sensibilidade ao sofrimento dos outros e pelo seu gosto imoderado
pela verdade e pela justiça, essa outra grande disciplina
espiritual também se esforçou para poder assistir à lenta desvalorização da violência, à compreensão
progressiva dos mecanismos da transgressão e ao melhoramento
da justiça e do tratamento dos delinquentes.
3 / Da psicologia
O período laico e algumas vezes niilista
ao qual pertencemos, continua, a través do desenvolvimento
de novas ciências
(sociologia, psicologia, etologia) à humanizar o sistema de punição.
O julgamento civil substitui pouco a pouco o julgamento moral – o
que permite limpar a moral dos seus arcaísmos e das suas hipocrisias.
Para o direito, o homem transgressivo já não é « mau », mas sim penalmente responsável e condenável à uma pena.
a/ A justiça substitui pouco a pouco a culpabilização
pela responsabilização.
b/ A confissão da falta transformou-se na admissão da responsabilidade e já não tem lugar no confessionário
mas sim no tribunal. é recompensada pela redução
da pena e pelo cuidado psicológico.
c/ A compaixão é progressivamente substituída pelo conceito de atenuantes, e por um trabalho de reflexão
sobre os motivos reais da transgressão – injustiça social, carências educativas, valores impostos pela sociedade….
O
nosso psiquismo, elaborando-se, permite que a sociedade se dirija pouco a pouco para uma visão muito mais aberta das responsabilidades humanas.
A nossa consciência adquiriu a capacidade de trabalhar em profundidade sobre a origem das transgressões. Progressivamente, posiciona-se antes do momento da realização do acto:
mais vale prevenir do que remediar.
Ninguém tem dúvidas que ao prolongar essa compressão permanente dos « nossos instintos transgressivos », e ao continuar a desenvolver as leis que protegem os mais vulneráveis, a humanidade vai
conseguir afastar do seu psiquismo todas as tendências que levam o homem a afirmar-se em detrimento dos seus semelhantes.
an 2001
superioridade
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