Descompressão regressão
valores humanos e valores do mercado
Qualquer evolução
se acompanha naturalmente por fases de regressão« Progredireinda melhor se me autorizarem à regredir. » Bruno Bettelheim A pesar do mundo andar cada vez melhor, como tentamos demonstrar neste site, a humanidade sofre fases pontuais de retrocesso e testemunha terríveis regressões. A violência e a monstruosidade desses
períodos até conseguem esvaziar temporariamente a
humanidade de qualquer sentido. Qualquer evolução
se acompanha naturalmente por fases de regressão, de recuo, de estagnação, de aceleração, ou, mais precisamente, momentos que são
interpretados dessa maneira. Na realidade, esses episódios são necessários
para a evolução. São parte dos elementos que constituem essa evolução, como por exemplo a crise de adolescência é um elemento constitutivo do desenvolvimento
da personalidade adulta. A maior parte das vezes, esses intervalos regressivos respondem à uma necessidade da sociedade.
a/ Podem
surgir após uma penúria de diálogo e de diplomacia, após uma acumulação de surdez aos outros, como é frequentemente o caso em relação ao
desencadeamento de conflitos e de guerras.
b/ Após uma acumulação de frustração e de injustiça, como é o caso em relação ás revoltas e ás revoluções.
c/ Após a tentativa de impor valores demasiado vanguardistas
(a igualdade para o comunismo, a partilha para as tentativas idealistas, etc.)
d/ Após um regresso a dominações primárias
(oligarquia, autocracia, ditatura).
e/ Também podemos encontrar momentos de regressão nas etapas de transição entre dois tipos de funcionamento:
passagem do religioso ao laico, do nacional ao continental, etc. Hoje, muitos entre nós, particularmente na esfera ocidental, têm o sentimento legítimo de estar inseridos num desses
períodos de regressão. A regressão actual é sem dúvida
efectiva,
todavia, é pontual e faz sentido.
Resulta das grandes mudanças que a humanidade tem de operar
nas suas últimas fases de unificação e de ajuntamento.
A aventura humana
« A
globalização é um novo rosto da
aventura humana. » Jacques Chirac
Se observamos a grande aventura da evolução
humana de maneira global e alargada, podemos facilmente decifrar um mecanismo progrèssivo de unificação.
De facto, depois de ter colonizado a maior parte dos espaços terrestres, os homens parecem ter iniciado, há algumas dezenas de milénios, um vasto movimento de agrupamento, um género
de reunificação para um funcionamento comum e universal. A
armadura material da nossa universalização já foi
concebida pelo homem. Trata-se da ONU, cujos diversos departamentos abrangem o conjunto das actividades humanas: banco, educação, agricultura, transporte, ciências, cultura, energia, património
artístico, organização mundial do comércio, tribunal penal internacional, etc. Essa universalização
gradual dos funcionamentos técnicos, políticos, jurídicos e sociais, acompanha-se da laicização
progressiva dos mesmos. Por outras palavras, ao mesmo tempo que tem de gerir a passagem do nacional ao continental (dos países europeus à União
Europeia, ou dos países africanos à União
Africana, por exemplo) a nossa época também tem de acabar de levar as diversas morais religiosas até uma esfera laica. O objectivo dessa laicização das morais é de
fazer emergir um direito humano universal e uma ética universal
conveniente ao conjunto das comunidades.
Sob a lei do mercado
Qualquer mudança de organização, de regime, de estruturas, provoca riscos inesperados, quantidade de problemas imprevistos e de obstáculos inopinados. Frequentemente também, a evolução humana acontece de maneira intuitiva. Ninguém sugeriu ao mundo GRego de agrupar aldeias para chegar a um funcionamento em CIDADES, nem de reagrupar as cidades para formar um PAÍS… Essa universalização
progressiva aconteceu sozinha, movida pelas forças da intuição
humana, e, segundo nós, por um plano determinado da natureza
(para citar a formulação de Kant).
Em todas as épocas e ainda hoje, a evolução
progrèssiva para a nossa unificação desenvolveu-se de maneira inconsciente. Desenvolvendo-se de maneira inconsciente, não pôde evitar os excessos.
Uma « inteira consciência do nosso destino comum » teria mostrado às religiões o interesse de se associar entre elas para ajudar no bom desenvolvimento da globalização.
Em vez disso, a inconsciência mant as religiões num estado de hostilidade, de competição, e finalmente de impotência perante os estragos produzidos pelo mercado nas áreas educativa, ecológica e espiritual. Uma « inteira
consciência do nosso destino comum » teria mostrado ao mundo INTELECTUAL, MEDIÁTICO e POLÍTICO
a importância da sua independência em relação
a um mercado instintivamente corruptor, para poder criticá-lo, denunciar os seus abusos, e assim, permitir ao mercado evoluir.
Em vez disso, a inconsciência, fora algumas excepções, permitiu que esses mundos (intelectual, mediático e politico)
caíssem nas mãos desse mercado ofensivo. Só que a caminhada humana para a unidade não se incomoda com nenhum
obstáculo, contorna as barragens ou pisa-as para poder avançar. a/ Quando as religiões são incapazes de se unificar para acabar por unificar a humanidade à volta de valores superiores, o mecanismo faz lhes perder influência para beneficiar vendedores capazes de coligar a humanidade sobre valores mercantis e ls – a moda, o prazer, etc. b/ Quando os JORNALISTAS, por cumplicidade, conivência, medo, corrupção, nepotismo ou ostentação, já não conseguem fazer o seu papel de protector do
povo e de democracia, os artistas e os cidadãos são
obrigados a substitui-los – já é o caso com
a Internet, os blogues, as emissões televisivas de cidadãos, etc.
Quando a evolução não pode passar pela consciência, utiliza a inconsciência. Uma evolução sem consciência pode prejudicar
todos os níveis da sociedade. a/ Quando um POLÍTICO
aceita cometer fraudes, prende correntes a volta dos próprios tornozelos até ao
resto da sua vida.
b/
Quando os dominantES, sujeitados ao seu próprio narcisismo, eliminam autoritariamente ou insidiosamente as críticas e os contra-poderes para gozar de um estatuto « todo-poderoso », acabam sempre por pagar o preço alto desse estatuto.
c/ Quando um JORNALISTA prefere o conforto, o poder, o luxo e a manipulação
do que a sua ética, tem de sofrer da sua má imagem
mesmo que tente dissimulá-la sob a má fé.
d/ De cada vez que um pensador vira a cabeça para o lado perante o sofrimento do povo, prejudica a sua própria consciência
e a sua posteridade. A vida, pelo jogo da boa e Mà consciência, do REMORSO, da CULPABILIDADE, dos ARREPENDIMENTOS e do sentimento
de ter agido
da maneira certa, indica-nos exactamente qual o melhor caminho à seguir, e faz-nos sentir, sempre que não entendemos a sua linguagem. A crise actual da sociedade explica-se porque o sistema DE VALORES,
gerido outrora pelo espiritual, está agora nas mãos
do mercado. Porém, os novos valores propostos pelo mercado não
passam de pulsões primárias ligadas à s nossas origens primatas. Trata-se da competição feroz, da
agressividade, da compulsividade, do narcisismo, da atitude de
clã, etc. Tratam-se então de « valores » regressivos. A
humanidade tem de seguir assim valores regressivos, que são
incapazes de fazer sentido na vida do homem. Se o mercado e o seu sistema primário e predador se impuseram
ao mundo, é porque representam actualmente a única
oportunidade. O espírito global da humanidade ainda não é capaz
de adoptar um sistema consciente, simbiótico, benéfico
para todos os povos, países e continentes. Ao mesmo tempo,
o absurdo trazido por esse sistema predador, perturba cada vez
mais a nossa consciência, e os seus comportamentos compulsivos
federam a crítica e obrigam a humanidade a unificar-se.
an 2001
dualismo
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