France English Português Contactez nous

facebook petite icone bleue
twitter petite icone
flux rss, icone
mecaniqueuniverselle.net : aller à la page d'accueil

Filosofia de Jankélévitch

Toute la ruse des bonnes consciences revient à donner aux pauvres comme une gracieuseté, ce qui lui est dû comme un droit. Vladimir Jankélévitch

barbara hepworthPara ilustrar a nossa reflexão sobre o progresso da humanidade (progresso em relação ao controlo progressivo do seu COMPORTAMENTO) segue um br texto de Vladimir Jankelevitch a partir do qual vamos dissertar um pouco:

A nível dos costumes, do direito, das penas e do procedimento, um progresso contínuo é perceptível. Os nossos costumes são cada vez mais flexíveis, a nossa justiça cada vez menos bárbara. Tudo aquilo que é quantificável é susceptível de melhoria.

No ano 3000, muitas práticas desumanas terão desaparecido. A mulher já não será utilizada como um brinquedo ou um instrumento de prazer, a pena de morte será abolida há muito tempo em todo lado e até nos questionaremos sobre como a morte legal pôde ter sito inscrita nos códigos; talvez até, os bens tendo-se tornado tão abundantes, já não vamos ter a tentação de os roubar aos nossos semelhantes, o desinteresse será talvez a mais banal e a menos meritória das virtudes.
O interesse próprio ganhará então outras formas: ainda haverá mentirosos, presunçosos e egoístas!
Mas o egoísmo será mais subtil. O super-homem, ao regressar duma viagem as estrelas, estará vaidoso e mesquinho como qualquer um, enganará a esposa, fará sofrer o seu semelhante.

É que a consciência é retorcida, infinitamente; o homem, dotado de consciência, não pode não tomar consciência dos seus poderes clandestinos para enganar, da impunidade que lhe assegura o anonimato e o segredo das suas intenções.

Estas frases do filósofo Jankelevitch permitem-nos medir a extensão do campo de reflexão ocupado pela filosofia.

A moral fica sempre com a última palavra.” V. JankelevitchA sua envergadura excepcional permite-lhe mergulhar na psicologia, mas também projectar-se no futuro e ir buscar todas as substâncias necessárias as suas ANÁLISES.

Porém, se eu concordo plenamente com a primeira parte dessa projecção teleológica do filósofo, a parte que afirma a existência de um progresso a nível dos COSTUmes humanos, da JUSTIÇA, do DIREITO, das PENAS e dos procedimentos, a sua conclusão parece-me, no entanto, antagonista.

De facto, se, como pensa Vladimir Jankelevitch, a evolução leva o homem ao desinteresse pelo objecto (e pelo sujeito considerado como objecto) se a humanidade consegue alargar esse “desinteresse” a toda a espécie humana, então, qualquer interesse pessoal será, assim, apagado.

Se, pela abundância de bens, o objecto chegasse a perder a detestável vocação que fazemos dele desde sempre (marcação da classe social, da hierarquia, bugiganga marca casta) e encontrasse finalmente o seu verdadeiro lugar, ou seja o seu lugar de simples utensílio ao serviço do bem do homem, então, livrava-se de toda a sua carga “negativa”.

e assim, se não tivéssemos mais nada para invejar aos outros, a cupidez, a venalidade, o egocentrismo, desapareceriam de forma natural e positiva.

Já não seriam precisas as mentiras, a vaidade, o egoísmo, a presunção ou a mesquinhez porque o próprio do desinteresse seria aniquilar todas essas reacções primárias, aniquilar tudo aquilo que as faz existir, ou seja, eliminar o desejo, o ORGULHO, o narcisismo e o JULGAMENTO.

A conclusão do grande filósofo também não considera, a meu ver, todos os parâmetros que inclui o nosso destino:

Primeiro, a evolução da humanidade não tem data de conclusão. Basta então adicionar vários milénios de evolução humana depois do ano 3000 (data sobre a qual se apoia o filósofo no seu raciocínio) para que a sua frase “muitas práticas desumanas terão desaparecido” se torne “todas as práticas humanas terão desaparecido”.

Depois, quando Jankelevitch destaca, justamente, o lado retorcido da consciênciahumana e a “impunidade” que lhe assegura o segredo das suas intenções, ele também se esquece, pelo que me parece, do prodigioso desenvolvimento das ciências humanas (psicologia, sociologia, PSICANÁLISE). Essas ciências, de facto, iluminam pouco a pouco todos os recantos escuros do nosso espírito. E é de facto a obscuridade do nosso espírito (obscuridade cujas vítimas também somos) que permite à luta interna entre as pulsões e a moral de estar frequentemente a favorecer as pulsões capazes de fazer “sofrer o nosso semelhante”.

Por outro lado, se como o diz Jankelevitch, a humanidade elimina progressivamente as suas práticas desumanas, é impensável que ele possa cessar esse trabalho antes de o ter terminado. Como é que se pode imaginar, de facto, que os nossos descendentes possam aceitar uma parte de “inumanidade desculpável”, de “abuso tolerável” sem os combater?
Então, ano após ano, século após século, o rolo compressor de pulsões abusadoras vai continuar e crescendo, até ao aniquilamento completo da capacidade humana em maltratar e em abusar o seu semelhante. Enquanto persistir um vestígio de injustiça, de maldade, de desigualdade, certos homens oferecerão a sua existência para os combater.

E finalmente, a projecção de Jankelevitch também não considera a explosão demográfica – fonte de angústia para algumas pessoas – mas também, e sobretudo, responsável pela aceleração prodigiosa e exponencial de todos os progressos humanos. Motivada pelo numero de cérebros em acção, a criatividade, a reflexão, o conhecimento, a educação, o poder de análise e de síntese, a capacidade de crítica e de mudança progride à um ritmo vertiginoso. 

E esse conjunto de faculdades desenvolve a nossa consciência e a nossa sensibilidade, duas das grandes faculdades capazes de vencer as nossas práticas desumanas.

2001

robotização

Jankélévitch

Vladimir Jankélévitch est né dans une famille d'intellectuels russes. Son père mèdecin, Samuel, fut l'un des premiers traducteurs de Sigmund Freud en France ; il traduisit également des oeuvres de Hegel et Schelling ; il publia des articles dans les revues de philosophie. Comme de nombreuses personnes d'origine juive, les Jankélévitch ont fui les pogroms dans leur pays et se sont installés en France. Vladimir entre en 1922 à l'École normale supérieure où il étudie la philosophie ; il y a pour maître Léon Brunschwig (1869-1944). En 1923, il rencontre Henri Bergson avec qui il entretiendra une correspondance. Reçu premier à l'agrégation en 1926, Jankélévitch part pour l'Institut français de Prague l'année suivante.

wikipedia