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Da magia a ciência

O progresso da verdade

karen kilimnikJulgam que as ciências podiam ter-se desenvolvido e crescido se elas não tivessem tido como vanguarda os mágicos, os alquimistas, os astrólogos e os feiticeiros cujas promessas e as miragens deviam primeiro suscitar a sede, a fome, o agradável antegosto das potências escondidas e proibidas? Não vêem que foi preciso prometer infinitamente mais do que aquilo que jamais podia ser comprido, para que apenas algo pudesse cumprir-se na área do conhecimento ? Nietzsche, le gai savoir 1882

A partir do momento em que o homem começou a colocar-se perguntas metafísicas, por outras palavras “perguntas filosóficas insolúveis” (O que é que anima o mundo? O que há depois da morte, etc.) criou-se um novo sofrimento, que poderíamos qualificar de existencial.

O sofrimento, e os seus opostos (o prazer, a felicidade) são guias da evolução.

O homem, mas também toda a espécie viva, foge do sofrimento e procura a felicidade.

Esse novo sofrimento ligado aos questionamentos exigiu então alguns cuidados.

Para cuidar um questionamento angustiante, o único meio é trazer-lhe uma resposta coerente e reconfortante.

Isso permite-nos distinguir a maravilhosa inteligência da criação e da evolução.

De facto, a configuração psíquica e social do humano, faz que nenhuma barreira possa impedir a subida dessas perguntas angustiantes e que nenhuma resposta incoerente as pode satisfazer…

Por outras palavras, o homem d procurar, ele não tem o direito de se iludir, tem de procurar mais e mais até encontrar a resposta que o deixará definitivamente em paz.

É o que a humanidade sempre fez. Perante esses problemas existenciais, o homem desenrascou-se sempre para fornecer as melhores respostas proporcionalmente aos conhecimentos do momento.

Os deseus, e depois Deus, o universo, o mundo, o ALÉM, o finito, o infinito, o tempo, a matéria, etc. foram progressivamente descobertos pelo espírito humano. Esses grandes conceitos, esses grandes valores, são fundamentais para resolver os nossos enigmas. Apuraram-se incessantemente ao longo dos tempos.

Primeiro, as explicações foram mágicas, POéticas e iLUSTRADAS como podemos encontrar nas cosmogonias animistas por exemplo.

No antigo Egipto, na origem da criação, existe o Noun, género de fluido primordial (Jean-Paul Mbelek). Nas cosmogonias africanas, a nossa origem é o fruto de uma mitologia extraordinária na qual encontramos potências de bondade, animais, o sopro, a terra, etc. A morte dá abertura ao mundo dos espíritos, o mundo dos ancestrais e encontra-se na junção com a natureza, e a aparição do homem é o fruto dum acto criador.

A sua maneira, as grandes religiões afinaram ainda mais essas respostas. Começaram a tentar torná-las razoáveis.

Hoje, quando comparamos as grandes metáforas religiosas às descobertas científicas, podemos medir a sua espectacular beleza e toda a sua pertinência.

Todavia, mesmo se essas intuições que se adequavam bem ao espírito daquela altura conseguirem perfeitamente ser encaixadas por um espírito espiritual, nas propostas cientificas actuais, a um dado momento da evolução humana, a forma METAFÓRICA já não poderia convir à consciência da ciência RACIONAL.

A filosofia e a ciência tomaram então o seguimento deste processo.

Crenças científicas

A ciência não pode provar que Deus não existe porque há qualquer coisa que lhe escapa por natureza Kant

As representações do mundo ou do divino apresentadas pelo homem ao longo da sua evolução mergulharam assim em diversos climas, em função das alturas.

Ambiente SUPERSTICIOSO, MÍTICO, SIMBÓLICO, religioso, filosófico ou científico.

Há mais de um século, no mundo industrializado, a visão científica apoderou-se, de um certo modo, do monopólio das explicações, e por vexes com a firme convicção de ser dona da verdade.

Mas “Verdade aquém dos Pireneus, falsidade além”, como escru Montaigne… e se o mundo científico pode efectivamente ter o monopólio da verdade aquém do mundo TRANSCENDENTAL (por outras palavras no mundo FENOMENAL) não é por isso que é dona da verdade além desse mundo.

Quando a ciência ou a filosofia propõem com segurança a superioridade do ACASO sobre o destino, elas impõem nem mais nem menos do que a sua CRENÇA, porque hoje em dia ninguém pode afirmar que o mundo se construiu graças ao ACASO, nem ninguém pode afirmar que se construiu seguindo um destino (é a mesma coisa quando a ciência ou a filosofia sugerem a inexistência de Deus, a irrealidade do além, a ausência de outras realidades do que a do mundo fenomenal, apenas emitem uma CRENÇA, contestável como todas as outras crenças).

Até do simples ponto de vista da lógica, essa crença que poderíamos qualificar de “RACIONALISMO DOGMÁTICO” parece até bem mais contestável do que as crenças espirituais.

O simples facto que o mecanismo que está na origem do universo seja capaz de dissimular aos maiores científicos os segredos da sua elaboração apesar das energias dedicadas pelo pensamento humano para os descobrir, milita mais a favor da existência de uma potência superior do que de outra coisa.

Posições dominantes

A ciência sem religião é manca, a religião sem ciência é cega Eden Phillpotts.
“A verdade não se desvenda aos violentos que a pretendem roubar, mas sim aos que a esperam com respeito e se abandonam nela.”Emerson Na maior parte das áreas, o desenvolvimento humano usa frequentemente o jogo primário e inconsciente do dominante e do pretendente para evoluir.

Quando a religião estava numa posição de poder absoluto, ela impunha os seus dogmas e não suportava ser contestada. Os científicoS tinham de fazer coincidir as suas pesquisas com OS GRANDES LIVROS SAGRADOS se queriam manter sã e salva a sua existência.

Mesmo que as consequências da "autocracia científica" moderna já não tenham nada a ver com a autocracia religiosa, a ciência (como a religião no seu tempo) t de viver, ela também, um período autocrático, do qual apenas começamos agora, ao que parece, a sair.
 
De facto, há algumas dezenas de anos, as pressões parecem ter-se fortemente relaxado e o meio científico abre-se cada vez mais às outras disciplinas do pensamento (filosofia, religião, e até esoterismo).
 
Um novo eixo de reflexão, muito mais tolerante e cosmopolita, parece querer interessar-se pelas nossas "antigas perguntas metafísicas".
 

Ciência, filosofia, religião

Cada uma por sua vez, as mitologias, as religiões, as filosofias e as ciências forneceram explicações às grandes perguntas metafísicas e o rigor científico acelerou prodigiosamente o desenvolvimento do conhecimento humano.
 
Entre as cosmogonias primitivas e a física QUÂNTICA, entre a ideia de atómo imaginada por Demócrito e as partículas, a nossa consciência do mundo evoluiu para a racionalidade.
 
Se estudássemos a história das respostas trazidas às grandes perguntas metafísicas, podíamos reparar numa curva ascendente da intuição para a razão, da inspiração para o pragmatismo, da magia para a ciência.
 
Essa evolução do mágico para o científico traz-nos o sentimento de nos aproximar cada vez mais da verdade.
 
É o que pensa, ao que parece, grande parte do mundo científico e filosófico (pelo menos aqueles que colocam, como Augusto Comte,  a ciência como finalidade atrás do conhecimento).
 
A meu ver, em parte eles têm razão, más só em parte!
 
As explicações do mundo, ao evoluir, aproximam-se efectivamente sempre mais da verdade. Mas trata-se da verdade fenomenológica, a verdade teórica, vista do exterior e de maneira analítica.
 
Esse ângulo exterior, por muito necessário e construtivo que seja, não é a própria verdade, é apenas a imagem da verdade.
 
Porque, tal como a análise do sofrimento não é a mesma coisa do que o sofrimento sentido, a análise da matéria não é a verdade da matéria, tal como a análise do divino não é a verdade do divino vivido.
 
Mesmo que o homem descubra, no futuro, a fórmula matemática do principio criador, ou seja a fórmula matemática do divino, essa fórmula nunca substituirá a sensação sentida por um ser humano que estaria em contacto absoluto com esse princípio criador. Dito com outras palavras, a explicação teórica de Deus nunca substituirá o amor sentido por um monge em extâse (ou seja por um monge que estabeleceu um contacto com a natureza íntima desse "fórmula matemática").
 

De facto, apenas um contacto íntimo com o divino permite aceder de maneira sensitiva à Verdade absoluta, todas as outras verdades sendo relativas.

 
Porém, todas as verdades relativas que são progressivamente descobertas pelas ciências ditas exactas têm uma importância capital para a evolução humana e a sua finalidade (da qual dizemos aqui que é extática). Essas descobertas permitem de facto reduzir progressivamente a taxa global de preocupação da humanidade.
 
Essa redução das preocupações amplifica o seu contrário, ou seja o sossego, um dos maiores valores para aceder ao beatismo, ao contacto directo com a grande Verdade.

2001

ciência

novalis

“Tudo é magia, ou nada.” novalis